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 O Convento dos Franciscanos

É um imóvel de carácter religioso, fundado na década de 1640 e reconstruído em meados do seculo XVIII. Destaca-se pela sua fachada de estilo "barroco açórico" ou "barroco atlântico", caracterizado pelas cantarias profusamente trabalhadas com a rocha negra do basalto que contrasta com as superfícies caiadas de branco.


 O Convento dos Franciscanos

Símbolo vivo da história e cultura lagoenses

A cidade de Lagoa possui um valioso patrimônio arquitetónico abastado em exemplares que abrangem os séculos XVII, XVIII e XIX.

O Convento dos Franciscanos faz parte dessa opulenta herança. Casa recoleta do século XVIII é uma das maiores construções arquitetónicas rica em história e cultura micaelenses.

É um edifício carregado de forte significado e simbolismo não só para a cidade de Lagoa bem como para todo o concelho de Lagoa. Com efeito, este convento já foi palco de vários acontecimentos ao longo da sua duradoura existência que pode ser considerado uma referência histórica e cultural dos nossos antepassados e um marco da identidade dos lagoenses, pois é este património cultural refletido neste imóvel arquitetónico que nos faz perceber como somos diferentes dos outros e a razão pela qual somos lagoenses.

A Lagoa só passa a possuir um convento de franciscanos a partir de meados do século XVII. Não falamos pois do atual Convento, mas sim de um primeiro, mais pequeno e mais modesto, que foi construído onde se encontra o atual jardim. O recente Convento dos Franciscanos só foi edificado no século XVIII por razões que desvendaremos mais abaixo.

É sabido, segundo fontes históricas, que os lagoenses sempre tiveram uma grande estima pela Ordem dos Terceiros de Santo António, constituída pelos frades capuchos ou mais comummente conhecidos por frades franciscanos: as famílias mais abastadas disputavam entre si a recolha destes religiosos em suas casas. Deste modo, todos os frades capuchos que iam a caminho dos conventos de Ponta Delgada, Vila Franca e Ribeira Grande eram sempre muito bem recebidos pelo povo lagoense. Neste sentido, quando os franciscanos destas ilhas obtiveram a sua autonomia, a 29 de Junho de 1641, resolveram edificar na vila da Lagoa, um pequeno convento, aceitando a oferta do conde D. Rodrigo da Câmara, um grande benfeitor, na altura, que lhes concedeu os seus Paços. O conde, como queria ser protetor do Convento, ofereceu de bom grado aos frades capuchos e obviamente à Ordem dos Terceiros, os seus aposentos avaliados em mais de 3.000 cruzados, não se abstendo ainda de contemplar os religiosos com dez alqueires de terra para a cerca do convento, bem como, um sino, um relógio, um breviário, uma bacia e três coxins. A 22 de outubro de 1641, já instalados, os franciscanos, logo tratam da construção do seu mosteiro, aproveitando para tal o terreno abaixo do Paço, ou seja, local do atual jardim que perdura até aos nossos dias. Em 1644, o novo convento já servia para o culto religioso, e aí, os franciscanos, passaram a viver. No entanto, e como já se frisou acima, este Convento passou por inúmeros acontecimentos, entre os quais várias provações: em 1652, com a erupção do Pico de João de Ramos, tudo ficaria bastante destroçado. Os anos foram passando, as reparações foram-se fazendo, até que os religiosos chegaram à conclusão de que seria necessário edificar-se uma outra casa no alto da cerca, ou seja, precisamente onde haviam estado os Paços do Conde e onde atualmente se encontra localizado o Convento dos Franciscanos. A primeira pedra para a construção do atual Convento foi lançada em 1740, mas na realidade, a sua construção só começou a ser frutífera a partir de maio de 1749 quando D. José Teles Rodrigues da Câmara, seguinte patrono do Convento, decidiu tomar conta de toda a obra de levantamento. É por isso, que ainda hoje, tanto no altar-mor, como no tímpano do frontispício, podemos ver o brasão pertencente à família Câmara.

O espaço que rodeia o Convento dos Franciscanos ou também denominado Convento de Santo António é caraterizado por ser ornamentado com um belo jardim. Antes de 1879, data da elaboração do jardim, as coisas não tinham a atual disposição. De facto, o adro, que ia só até à torre, era todo virado para sul, havendo o portão, um pouco mais abaixo, no chamado Campo dos Frades. Com o aparecimento do jardim as coisas dispuseram-se como estão atualmente.

Este Convento encerra uma longa história que envolve vários episódios delimitados por vários acontecimentos, mudanças e alterações que definiram a sua estrutura arquitetónica atual. Nos seus primórdios foi uma casa de estudos preparatórios para os frades e também para os seculares: ensinava-se português, latim, retórica, música e canto gregoriano; no portão do átrio distribuía-se todos os dias esmolas de pão e caldo aos pobres; faziam-se missas, festas solenes e pregações; todos os viajantes que passavam pela Lagoa e necessitavam de pernoitar encontravam aqui o necessário acolhimento e atenciosa hospitalidade. Durante os últimos tempos da primeira grande guerra mundial, diz-se que aqui estiveram presos soldados alemães. Mais tarde, todas as celas foram desmanchadas para dar lugar à instalação de diversas repartições públicas e uma escola, entre muitas outras funções.

O Convento encontrou o seu fim enquanto instituição religiosa ativa, em agosto de 1832, quando o coronel britânico Lloyd Hodges, na sequência de organizar o Exército Libertador, em nome de D. Pedro, deu a ordem de expulsão dos franciscanos do dito Convento. De facto, a secularização promovida pelo Liberalismo contra as ordens religiosas penalizou o Convento dos Franciscanos, que se viu obrigado a ser desprovido de todo o seu espólio, incluindo pratas e, particularmente um órgão, instrumento muito importante para a comunidade lagoense, mas que acabou por ser transferido para a Igreja de N. Sra. das Neves, na freguesia da Relva. Atualmente, o Convento dos Franciscanos é a sede da Biblioteca Municipal Tomaz Borba Vieira.


No que diz respeito ao aspeto estético e arquitetónico da igreja anexa ao Convento: é toda constituída de abóboda e de uma nave só. Dispõe ainda de um galilé; à entrada, o seu frontispício é notável pelo seu equilíbrio e pelos seus acabamentos pronunciados; o conjunto do pórtico e do janelão é caraterizado pelas colunas salomónicas e os SS e volutas. É de salientar ainda, a leveza dos aventais das janelas, a concordância dos dintéis das janelas laterais com a cornija horizontal, que se desenvolve sobre elas, e a forma como foi conseguida a elevação da mesma cornija do pano central para o devido enquadramento do janelão principal; também teve-se o cuidado de se inserir a torre no frontispício da igreja sem prejudicar a unidade do mesmo; acima do tímpano, no remate das cornijas superiores, assenta uma cruz sobre um baldaquino de quatro colunelos. Quanto ao seu interior, os janelões são enquadrados em colunas salomónicas, reproduzindo em parte os motivos do pórtico. Podemos ainda contemplar o arco abatido sobre o qual se apoia a parte anterior do coro, a decoração envolvente dos confessionários, a originalidade dos archetes laterais do altar-mor e a boa qualidade das talhas ainda existentes. Em suma, o Convento pode distinguir-se por possuir uma belíssima igreja barroca, profusamente decorada, no qual se destaca o trabalho de talha do altar-mor e as imagens de Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Monte do Carmelo. Segundo fontes da época, esta igreja já estaria edificada em 1755. Um outro facto interessante é que muitos ilustres da época, oriundos e não oriundos de Santa Cruz tinham um grande zelo por esta igreja ao ponto de quererem ser enterrados exclusivamente nela. De facto, no que toca a esta dimensão, a igreja apelava à devoção dos fiéis do concelho que doavam os seus bens mais preciosos para este templo religioso. A ligação que esta igreja possuía com a comunidade era tão forte que ultrapassava os limites da freguesia de Santa Cruz e o misticismo desta junto com a pujança do Convento eram tão potentes que os próprios párocos de Santa Cruz preferiam ser sepultados na Igreja do Convento do que na igreja da sua própria paróquia, tal como era hábito na altura. Nesta igreja rezaram um número médio de 25 frades franciscanos capuchinhos, coabitando todos juntos no Convento dos Franciscanos, preenchendo o seu quotidiano com atividades diversas, entre a devoção, o culto, a liturgia, a caridade e o ensino. De facto, tanto o Convento e a Igreja são especiais para o povo lagoense. O Padre João José Tavares escreveu “ o povo tem uma grande devoção pelo Santo António que se venera nesta Igreja. Apesar de na Matriz de Santa Cruz existir um altar consagrado ao taumaturgo português, cuja fundação é anterior à Igreja e Convento dos Franciscanos, os habitantes da Vila só recorrem ao Santo António dos Frades. Por isso, todos os dias à noite se vêem fiéis orando à porta da Igreja”.

A torre da igreja é outro ponto caraterístico que complementa toda a aura que envolve este Convento. Como nos diz Carreiro da Costa, na sua obra A Igreja e o Convento dos Franciscanos da Vila da Lagoa “do alto da torre desta igreja, não há dúvida que temos a Lagoa mais perto de nós, quase sentido as pulsações da sua vida, numa vasta panorâmica que nos comove a alma e regala os sentidos”. Com efeito, esta igreja, tal como o Convento, evoca uma mística muito própria. Era aí, nessa capela, que os frades faziam as suas orações, missas, festas solenes e pregações, entoando cânticos em honra das imagens do Senhor Santo Cristo dos Terceiros, Nossa Senhora da Conceição, São Francisco de Assis, São João do Prado, Bom Jesus, Nossa Senhora do Carmo, Santo Antão e Santo Amaro. Atualmente, a igreja não deixou de ter utilidade. De facto, neste espaço já se realizaram missas, procedeu-se a sessões solenes e até já se promoveram inúmeros espetáculos de foro artístico e cultural, dignificando-se, deste modo, esta pequena capela com um novo alento e até um certo revivalismo.

Considerada uma joia arquitetónica por muitos, o Convento dos Franciscanos já não pode fugir à biografia lagoense. Destaca-se por ser um emblemático monumento da Lagoa e assume-se como sendo uma marca da identidade cultural e histórica deste povo. É tão importante para a população lagoense, que a entrega oficial do mesmo, por parte do Governo Regional dos Açores, foi formalizada através de um auto de cessão, assinado entre o vice-presidente do Governo Regional, Sérgio Ávila, e o Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, João Ponte, restituindo-se o Convento dos Franciscanos à Lagoa, aos 9 dias do mês de junho de 2010. Depois de inúmeros séculos à guarda do Governo, o Convento foi restituído a quem sempre pertenceu por direito, ao povo lagoense e à freguesia de Santa Cruz. Esta devolução dependeu em grande parte da perseverança da Câmara Municipal de Lagoa e, em especial, do seu Presidente atual. Efetivamente, para o presidente da Câmara Municipal de Lagoa tratou-se de um marco histórico para o concelho, que resultou de uma importante decisão do Governo Regional dos Açores. Como presidente da Câmara Municipal de Lagoa, João Ponte, agradeceu o voto de confiança do Governo na autarquia lagoense e comprometeu-se a fazer de tudo para devolver de uma forma digna e merecedora este importante imóvel arquitetónico à comunidade de Santa Cruz, aos lagoenses e à ilha de São Miguel, salientado que o Convento dos Franciscanos é um edifício carregado de forte significado e simbolismo não só para o concelho, como para todos os lagoenses, pelo que a autarquia sempre pretendeu potenciar este imóvel para que o mesmo constituísse uma referência cultural e turística no presente e no futuro de uma vila que se transformou recentemente em cidade.     

O Convento dos Franciscanos é um imóvel de grande valor histórico e patrimonial e um dos mais emblemáticos monumentos da cidade de Lagoa, estando classificado como Imóvel de Interesse Público. É um monumento exemplar, cuja herança arquitetónica, espiritual e histórica destaca-se por ser uma das mais interessantes do Município de Lagoa. O Convento dos Franciscanos é indubitavelmente um dos ex-líbris da cidade de Lagoa. É um monumento de ontem, de hoje e principalmente de amanhã.


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